Não há factos que comprovem que os castigos corporais sejam um meio eficaz para concretizar objectivos positivos a médio prazo, quer no que toca à interiorização de valores morais quer na resolução de problemas sociais.
Esta prática constitui uma ameaça do bem-estar da criança à qual é aplicada e, frequentemente, é o primeiro passo numa escalada de violência.
A aplicação de castigos corporais tem sido relacionada com problemas de saúde mental infantil, nomeadamente depressão, infelicidade, ansiedade e perda de confiança no que de bom o futuro possa trazer.
A aplicação destes castigos por parte dos pais enfraquece a relação pai/mãe-filho, aumenta a incidência de agressões e comportamentos anti-sociais nas crianças, distorce a noção do que é um acto violento (são consideradas não-violentas acções que a maior parte das pessoas catalogaria como violentas) e perpetua o ciclo de violência, uma vez que as crianças agredidas tenderão elas próprias a tornar-se agressores, inclusive no seio da família.
Os factores mais comummente associados à aplicação de castigos corporais por um pai/mãe/educador são: a validação desta prática por parte da comunidade local; o próprio adulto ter sido alvo de castigos corporais na infância; má resolução de situações de conflito geradas entre o adulto e a criança, com uma consequente "descarga" de raiva; a atitude de catalogar a atitude da criança como um desafio aberto à autoridade do adulto; o stress acumulado, quer na relação de um casal quer na relação entre pais e filhos.
Nesta questão, o facto de a Declaração Universal dos Direitos do Homem prever a abolição de todo e qualquer castigo corporal é corroborado pelo cada vez maior peso dos argumentos - comportamentais e sociológicos - que condenam o recurso a castigos corporais e outras práticas punitivas, incluindo maus tratos psicológicos.
Partindo da Convenção Sobre os Direitos da Criança recomenda-se um conjunto de princípios que visam a implementação de práticas construtivas, a saber:
- Respeitar a dignidade da criança;
- Desenvolver comportamentos pro-sociais e promotores da auto-disciplina.
- Promover a participação activa da criança nas actividades escolares.
- Respeitar a qualidade de vida e as necessidades de desenvolvimento da criança.
- Respeitar as "filosofias de vida" já inculcadas na criança.
- Garantir um ambiente justo, e promover a Justiça enquanto factor positivo de transformação.
- Promover a solidariedade.